Você não vai entender até que respire

Você não vai entender, até que respire.

Não, não vai.

Até que você respire não só o que aconteceu, mas o que pode ser visto se olhar direito, do outro lado.

É segunda-feira e você não vai entender, até que respire um domingo. Um domingo longo, arrastado, debruçado no mais perfeito entendimento do que é paz. Ainda que seja aquela paz que a gente não entende.

Um daqueles domingos que termina com sorriso bobo, ainda que as dores estejam lá. Um desses domingos que te preparam bem para a segunda-feira.

É bem comum, ainda atordoado, a gente parar e ficar tentando entender os porquês divinos. Afinal, por que Ele deixou que isso acontecesse?

_Não faz sentido, não faz.

Não faz sentido pensar assim.

O acidente de carro, o câncer, a catástrofe, a pancada, o susto, o túmulo – seja o que for, independente do que você queira investigar no quesito vontade Divina, pode ser pensado de outra forma.

“Assim como o céu está acima da terra, assim meu modo de agir está acima da forma de vocês agirem, e meu modo de pensar está acima da forma de vocês pensarem.” (livro de Isaías, trecho do capítulo 55:9, na versão A Mensagem)

Pode ser que você não entenda aqui. Nesse mundo de acidentes, catástrofes, pancadas, sustos e túmulos, com a nossa mente que só vê isso.

Mas alguma coisa aconteceu com você, como aconteceu comigo. Dia desses vivi uma colisão. E não era a bela colisão que canta o tio Crowder. Foi uma dessas ruins, bem ruins.

Não entendia nada. Só me via responsável, culpado, sendo castigado pelos meus erros.

E desabei – porque faz parte desabar, especialmente em dias caóticos.

Mas a gente vai levantando. E quando a gente levanta, começa a se perguntar, de novo, “por que, Deus?”

Pergunta errada. De novo.

O que mudou em mim?

É impossível que nada tenha mudado. Essa pergunta tem respostas. Muitas ou poucas, elas estão aí. Prontas para serem esmiuçadas, substituindo perguntas erradas.

Porque talvez a resposta para a pergunta errada esteja neste outro lugar. Um lugar onde, independente do que você vai descobrir sobre vontade divina, você já começa a descobrir o quanto de Deus ocupa sua vida.

“Um lugar onde, independente do que você vai descobrir sobre vontade divina, você já começa a descobrir o quanto de Deus ocupa sua vida”

Até que eu entenda que deve existir em mim uma vida que me transforma o tempo todo, vou sempre seguir buscando respostas que talvez eu nem precise. Um sobrenatural desnecessário, quando às vezes a gente precisa de um sobrenatural…natural. Não é fácil. Não, mesmo. Mas não deixa de ser verdade que a gente fica viciado em buscar respostas espiritualizadas ou epifanias quando as coisas estão acontecendo na nossa frente.
 
Bem na ponta do seu nariz.

O que aconteceu já te fez perceber o que precisa ser diferente – em você, no outro, no mundo. Você sabe o que precisa mudar ou sabe pelo menos, repito, que você precisa respirar. Senão, não vai entender.

Até que eu comece a respirar, vou continuar tentando entender o que talvez nem deva ser compreendido.

Você deve lembrar que a mesma palavra para “respiração” é usada para “espírito” na Bíblia. Ser habitação do Espírito Santo talvez também seja essa respiração da sabedoria dele todo dia.

Ao ritmo dos meus pulmões, entender que preciso respirar.

Até lá, você não vai entender. Eu também não.

Foto de Morten Watkins