O Facebook está em polvorosa. Qualquer pessoa que acesse a rede social deve ter notado a enxurrada de arco-íris em sua timeline, o unicórnio mágico do amor passou espalhando cores e hashtag #lovewins.
Pra quem ainda desconhece, trata-se de uma aplicativo promovido pelo próprio Facebook para que as pessoas mostrem suporte à nacionalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos EUA. Desde já, vale mencionar que em terras brazucas o feito já tinha sido alcançando desde o ano de 2013, graças a uma resolução do CNJ.
Mas a terra do Tio Sam ainda é um dínamo sócio-cultural e a mudança de pensamento lá acaba refletindo no mundo inteiro, não há como negar. E uma dessas consequências é o embate de opiniões, que o caso específico realçou ainda mais os esteriótipos dos dois lados.
O time dos coloridos começa a fazer piadas sobre como a “família tradicional” perdeu mais uma batalha. O time dos preto e branco/cruz no avatar promove o alarmismo sobre como a “família tradicional” está condenada e o próximo passo é o caos social.
E entre tais aspas é definido o mote da guerra, tanto o alvo como o agressor.
Eu costumo transitar entre grupos distintos e muitas vezes acabo me sentindo como um andarilho propriamente dito, sem rumo e nenhum lugar para amarrar meu cavalo.
Na taverna onde a “família tradicional” é vítima, o clima é de constante ameaça. Por algum motivo acham que existe um perigo constante rondando. O medo faz um desserviço tão grande que temas de grande importância para a sociedade como um todo acabam entrando no saco de “Preocupações da Igreja”, logo sendo desgastado pelos falastrões de púlpito. Então contra-ataques são diariamente arquitetados na base do a “melhor defesa é o ataque”.
Incursões do Estado na vida privada são cada vez maiores, é verdade, mas esse é um tema que interessa à todos. Todavia o “povo da cruz” toma as dores logo pra si e acha que é errado falar de ideologia de gênero na escola por que Deus nos fez homem e mulher, e simplesmente oblitera a noção de que talvez seja errado por que não é papel do Estado interferir na formação sexual do indivíduo.
A discussão vira guerra. Cruz contra Arco-íris.
Já no acampamento colorido a “família tradicional” é o inimigo. Ela é conservadora, retrógrada, origem de toda forma de preconceito e ódio – ignoram articulistas afirmando que os estados mais conservadores dos EUA são mais tolerantes com opiniões dissidentes que os mais liberais.
Rejeitando qualquer tipo reflexão contrária e se auto proclamando donos do progresso, da ciência e das artes – como se tais esferas possuíssem alguma bandeira – seguem um caminho totalitário que acaba por diluir a justiça em suas causas.
O clamor vira grito. O grito vira ordem. Arco-íris expulsando a Cruz.
Sem concessões, sem um diálogo realmente disposto a ouvir o outro, num verdadeiro embate de forças só um resultado se aproxima: guerra – de palavras, de ideias, de leis e negociatas.
Não há vencedores na guerra. Essa não será diferente, então conclamo os demais andarilhos para peregrinar nos campos de batalha em busca dos feridos, já cansados demais para levantar qualquer bandeira ou erguer algum brasão. E aviso, serão muitos.
A não ser que um dos lados ceda e entre na discussão desarmado, sem medo de apanhar antes de ser ouvido. Pelo menos um deles já foi ensinado a dar a outra face.