Então ceiaram e, passada a Páscoa, olharam para trás e o que viram? E olhando para frente, o que esperavam enxergar? Toda passagem é mudança, incerteza, desapego, ou seja, só se concretiza com fé.
Quando sentaram à mesa para ceiar, o fizeram com base em uma promessa. À frente se abria a visão de uma terra farta, capaz de jorrar leite e mel. Não mais os açoites do povo que lhes oprimia; não mais viveriam em uma terra a que não pertenciam; fim das dores, provações, correntes e grilhões.
Quando sentaram para a ceia, o fizeram para ouvir uma promessa. À frente, o Mestre, que sempre trazia um reino sem choros ou ranger de dentes. Fim da eterna angústia de cada homem, a tão sonhada completude, o retorno ao lar que realmente pertenciam.
cordeiros sendo sacrificadas em uma, O Cordeiro sendo imolado na outra
Sem créditos, sem clímax, não é o fim.
Antes, os primeiros, tinham comida farta, a doçura do Nilo e um teto. Agora, diante de seus olhos se desdobra um deserto com 40 anos de comprimento, aridez e escassez. Antes, os doze, eram senhores de seus destinos, sob a paz de Roma e a bênção dos sacerdotes sobreviviam sem maiores aflições. Agora, sequer têm onde recostar a cabeça.
uma enorme distância entre a passagem e o alvo prometido
Depois da Páscoa vem deserto, mas também vem Maná; tem centuriões, mas também há Pentecostes. Mas deserto e Maná não constroem uma Canaã, também centuriões e Pentecostes não formam uma Nova Jerusalém. É um caminho fatigante, em nenhum momento mais fácil que o vinha sendo traçado antes dela – da escolha, da passagem – e que, não raro, traz uma viagem tão longa que a maioria precisará gastar toda a vida para completá-la.
A Páscoa é uma despedida? Não. Depois a vida volta, ainda mais forte e crua, porém, livre.
Capa: rock climbing victory.
Daniel Serrano é formado em direito, advogado, adora video games e escreve pro *catavento com qualidade duvidosa.
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