Jornadas, ciclos e morte na graphic novel “Daytripper”

Não é dos Beatles que estamos falando, mas sim de um quadrinho escrito e desenhado pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, com cores de Dave Stewart.

Originalmente publicado pela Vertigo (selo da DC Comics) no ano de 2010 em 10 volumes, o quadrinho ganhou versão nacional pela Panini Comics em 2011 com um formato único, compilando tudo numa edição capa dura.


Sinopse

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Daytripper conta a história de Brás de Oliveira Domingos, um filho de escritor com alma de escritor. O quadrinho passeia pela vida de Brás e daqueles que o rodeiam.

Cada capítulo é numerado de acordo com a idade de Brás no evento retratado e o modo como essa passagem se dá é bem peculiar – dizer mais que isso é estragar a leitura.


Daytripper #5

Arte e cores

O currículo dos gêmeos Moon e Bá já dispensaria recomendações. Os três prêmios Angelo Agostini de melhores desenhistas (dentre vários) já serviriam como uma boa credencial. Em Daytripper não é diferente. O traço rico algumas vezes chega a flertar com a caricatura, mas sempre mantendo-se sóbrio, o que resulta em personagens com linhas marcantes. A estética permitirá que o leitor os reconheça mesmo quando estão ao fundo, já em um plano de desfoque.

Se por um lado o traço dos irmãos é belíssimo, as cores de Dave Stewart são o que fazem os desenhos saltarem das páginas. Há painéis que merecem uma verdadeira pausa para admirar o trabalho. É bastante precisa a escolha de cores para combinar com cenário emocional do quadrinhos. Um detalhe especial vai para as capas, que também se destacam.


Daytripper

Ponto alto

O traço e as cores formam uma belíssima moldura para o que realmente merece destaque em Daytripper: os diálogos. Não necessariamente o roteiro ou o rumo que a história toma, mas precisamente as belas conversas entre os personagens ou mesmo os monólogos – que formam uma conversa com o leitor.

São reflexões sobre a vida e a efemeridade da existência que assumem uma postura profunda em várias situações. Por se tratar de um quadrinho, outra ferramenta surge para diferenciá-lo de um livro: o diálogo mudo.

Em dadas situações os personagens “falam” sem dizer nada, tampouco alguém narra a situação. Nesse momento, Moon e Bá conseguem transferir ao leitor o papel de narrador e tudo o que se quer transmitir fica delineado nos traços da expressão desenhada.

A presença constante do elemento morte e as reflexões acerca do valor e do sentido da vida fazem surgir belos trechos como o presente no quadrinho acima e transcrito abaixo:

“A vida é como um livro, filho. E todo livro tem um fim. Não importa o quanto você goste do livro…você vai chegar na última página…e ele vai terminar. Nenhum livro é completo sem o fim. E quando você chega la…somente quando você lê as últimas palavras…é que você vê como o livro é bom. Ele parece mais real.”

Daytripper não escapa da própria reflexão.


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Ponto baixo

Apesar de um fechamento honesto e bonito, Daytripper constrói um trilho ímpar que parece ter dificuldade seguir – o próprio final parece alterado de última hora. A profundidade existe, como já ressaltado, mas não é constante e algumas metáforas que parecem promissoras desaparecem na mesma rapidez que surgem.


Nota final: [rating=4]