O legado da Igreja Universal que incomoda os evangélicos

Deu no NY Times: “Voltando-se para a religião na prisão, brasileiro acaba no outro lado das grades” – esse é o título dado à história de Antônio Galdino da Silva Neto e que ilustra a capa deste post.

Policial; depois presidiário; por fim, diretor de presídio. Após ter bebido e discutido com sua esposa, Galdino pegou a arma para intimidá-la e efetuou um disparo acidental. Transtornado, entregou-se três dias depois e foi sentenciado a 15 anos de prisão – onde passou a conviver com vários que havia perseguido como policial.

A história não é recente, tampouco foi negligenciada pela mídia nacional. A Folha já a havia contado em 2013 sob o título: “Condenado por matar mulher, ex-PM denuncia violência e vira diretor de presídio”. – clique aqui para ler mais –

Mas o detalhe que chama a atenção é o trazido pela reportagem americana no trecho: “Desolado após 20 dias sozinho, ele recebeu a visita de um pregador da Igreja Universal do Reino de Deus, um império cristão evangélico cujos ensinamentos são similares àqueles de pregadores do “Evangelho da Prosperidade” como o Rev. Creflo A. Dollar Jr.

Desde que o Jornal Nacional exibiu um vídeo em que Edir Macedo (líder da IURD) ensina técnicas de como arrecadar dinheiro dos fiéis, a Universal do Reino de Deus tem sido a representação do que há de pior no lado humano do cristianismo evangélico.

As denúncias de lavagem de dinheiro; as rosas, vassouras e demais itens ‘ungidos’; lenços supostamente umedecidos no Rio Jordão, e mais uma infinidade de práticas muito mais mercantis do que cristãs colaboram para que a maioria dos evangélicos olhem com desdém para os idealizadores do “Templo de Salomão“.

Mas todas essas impressões parecem entrar em choque diante de imagens como as seguintes:

O caso de Antônio Galdino é também mais um que mostra um lado da IURD pouco conhecido para muitos. Serviço, compaixão, amor cristão propriamente dito.

Mais que pouco conhecido, a faceta social da Igreja Universal do Reino de Deus parece ser propositalmente ignorada pela maioria dos cristãos – este que vos escreve, incluído. É mais fácil reduzir tudo e todos ao comportamento de sua cúpula de líderes.

Seguimos então, mais uma vez, na dança dos extremos. Há os que endeusam a Universal e fazem vista (extremamente) grossa aos seus inúmeros erros éticos e doutrinários, como também quem a demoniza, despindo-a até mesmo dos rótulos de ‘igreja’ e ‘cristã’.

Todavia, é lugar-comum que a Igreja não é só quem a lidera, mas também quem a faz. A IURD também é as pessoas que visitam enfermos, atendem idosos, consolam viúvas, alimentam mendigos e visitam prisões.

Antônio Galdino da Silva Neto hoje é ativista e luta por uma condição mais humana nos presídios. A taxa de reincidência com a prisão sob seu comando caiu bastante e lá ele evangeliza os detentos e busca condições para que todos estudem e trabalhem, garantindo uma maior chance de reabilitação.

E isso é um fruto da Igreja Universal do Reino de Deus, não há como negar. Admitir isso e ao mesmo tempo insistir que trata-se de uma instituição puramente anti-Cristã é pedir pra ouvir as palavras de Jesus aos fariseus: “Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, então, subsistirá seu reino?
(Mateus 12:25-26)

Longe de se pactuar e engolir os escalabros doutrinários, muito menos adotar o Conselho de Gamaliel como a postura a ser seguida. Mas, talvez, entender que a IURD também é Igreja e, como tal, precisa de comunhão, aproximação e discipulado.

É fácil olhar para Igreja Universal e enxergar apenas seus desvios e descaminhos, isso nos reconforta, pois automaticamente nos sentimos mais santos, cristãos melhores, mais éticos e melhores entendedores da Palavra.

Para muitos só resta ignorar a IURD, nos isolarmos dela, pois já é um “caso perdido”. Assim como Antônio Galdino foi um dia.


Capa: Taylor Barnes/The New York Times