Não é difícil perceber como 2015 foi um ano rico para o cinema. Nas listas de lançamentos de blockbusters temos vários títulos de qualidade, assim como nos títulos independentes e do circuito autoral (nos festivais de Cannes, Veneza, Berlim e Sundance). Com mais tempo para assistir tudo, não seria difícil listar mais de 20 ou 30 filmes. Aqui no catavento*, contudo, a gente tenta trazer uma lista de 2015 que representa aquilo que acreditamos. Obras que mexem conosco artisticamente e, atrelado a isso, nos provocam, inspiram e nos tiram da zona de conforto.
Essa lista abaixo, então, busca isso. Tentando assistir ao máximo os grandes e pequenos destaques do ano, apresento aquilo que de melhor assisti nas telonas e telinhas em 2015. A lista está em ordem alfabética e não por preferências. Assim a gente evita dramas:
Amizade Desfeita (Unfriended, Levan Gabriadze)
A proposta corajosa de Amizade Desfeita não deve agradar a todos. Se passando inteiramente na tela de um computador, o filme se força a utilizar unicamente as plataformas e linguagens adotadas por adolescentes de hoje (personagens da história). O terror se constrói e se revela através da comunicação, cuja falência, por sinal, mostra ser o motivo de tudo aquilo estar acontecendo.
Birdman (Birdman, Alejandro Gonzales Iñarritu)
O vencedor do Oscar de 2015 representa uma mudança radical no cinema de Alejandro Gonzales Iñarritu. Deixando de lado sua necessidade de histórias que se conectam e revelam “grandes lições”, o diretor vai ao encontro de uma história cínica, interessada em discutir o cinema-de-herói de hoje, ao mesmo tempo em que absorve elementos de fantasia.
Corrente do Mal (It Follows, David Robert Mitchell)
Com atmosfera única, Corrente do Mal consegue ser excepcional trabalhando um formalismo estético digno de John Carpenter. De forma sutil e bem elaborada, está ali uma incrível capacidade de te deslocar gradativamente do que parece ser realidade e assim, entregar mais que um conto moralista sobre sexualidade, mas um filme sobre distanciamento familiar e um medo permanente do mal.
https://www.youtube.com/watch?v=2H9MbmdiMKY
Divertida Mente (Inside Out, Pete Docter)
Se a Pixar ainda parece com dificuldades em narrar grandes aventuras, permanece grandiosa sua capacidade de tocar em temas profundos de forma tão simples e bela. Divertidamente transpira delicadeza ao falar sobre puberdade e melancolia, nos emocionando do começo ao fim.
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (Me, Earl and The Dying Girl, Alfonso Gomez-Rejon)
Um filme pode ser cinéfilo de várias formas e este não tem medo de ser do jeito mais escancarado possível. Mesmo não sendo uma obra prima, a obra de Alfonso Gomez-Rejon é cinéfila não somente na história de dois amigos que refazem filmes de arte, como também no próprio jeito de filmar, passeando entre Wes Anderson e John Hughes. Começando com a licença poética de um protagonista exageradamente indiferente, o filme mostra sua transformação e termina como um drama inspirador.
https://www.youtube.com/watch?v=djL-sKoC3oI
Kingsman – Serviço Secreto (Kingsman, Matthew Vaughn)
Sem limites para zombar filmes de espiões (sem se propor a ser uma comédia), Kingsman ainda consegue ser uma obra que remixa cenas de ação com maestria e anarquiza temas contemporâneos como a adesão às novas tecnologias. Como esquecer a cena da igreja?
Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, George Miller)
O longa de George Miller conseguiu marcar 2015 por visitar um território pouquíssimo explorado no cinema de Hollywood. Mad Max é arte sem medo de ser filme de ação e vice-versa. O que faz dele grandioso é sua capacidade de ser cinema de entretenimento ao mesmo tempo que toca em assuntos contemporâneos.
Que Horas Ela Volta? (Ana Muylaert)
A obra de Anna Muylaert ecoa por dias na cabeça de quem o assiste. São imagens que permanecem, como a cena da piscina, bem como a delicada investigação de um tema presente na vida de boa parte da população brasileira. Mais do que uma propaganda “de esquerda”, Que Horas Ela Volta? fala sobre uma antiga realidade nacional que passa por mudanças cada vez mais intensas.
Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, J. J. Abrams)
Assistir ao filme de J. J. Abrams como uma emulação de Uma Nova Esperança é olhar para a obra de forma bastante preguiçosa. O Despertar da Força cumpre a agenda do universo Star Wars, mas o atualiza com protagonistas mais próximos do público, cheios de gags de humor e cenas de ação empolgantes, como a série precisa.
A Visita (The Visit, M. Night Shyamalan)
Um retorno de M. Night Shyamalan ao seu jeito de contar histórias. Aqui, se reinventa e descobre novas formas de fazer isso, brincando com a metalinguagem de uma menina que faz um documentário sobre o passado da sua mãe. Sem rasteiras narrativas, o filme explana sobre a relação entre jovens e idosos, ao mesmo tempo em que pensa como conta histórias com imagens.