Quando tomamos os remos nas mãos e nos lançamos às águas a emoção é eletrizante. Estamos nos projetando para longe e nos distanciando da terra firme, do porto seguro, mas também de tudo que é parado e estático.
Como conhecer novos ares sem se aventurar? Como adquirir profundidade sem mergulhar? Então embicamos mar adentro e remamos, remamos até que não mais é possível ver a costa; definitivamente estamos em alto mar.
No oceano da Fé, o velho homem morre na praia e dela nos distanciamos a fim de saber mais sobre o Espírito que paira sobre todas aquelas águas. Somos abraçados pela brisa, o cheiro do sal nos faz esquecer de uma vida antes insossa. No horizonte, o Criador sorri e nos aguarda, então para lá navegamos.
Anos passam e os braços cansam, longe das praias, dos portos, a vontade de atracar traz a procura por um cais e também a sensação de estar perdido. Não há mapas nessa jornada, a bússola que apenas aponta o norte, sem qualquer outro tipo de indicador ou ajuda.
É o caminho certo? Outrora haviam sinais no céu, agora nuvens escuras ofuscam até mesmo as estrelas e a dúvida nasce: – é assim que a jornada se dá?
“remar na Fé é seguir sem mapa”
Sentado, com os remos em riste, parado, uma nova brisa acaricia seu rosto e, com ela, a certeza que fora esquecida: remar na Fé é seguir sem mapa.
Apenas o norte, pra cima, pro alto e quanto mais fundo na Fé, menos sinais. Mas quanto mais fundo na Fé, maior a correnteza, maior o impulso, mais perto se chega.
Mais perto de onde?
De onde for para estar.
adrift.., foto por Locopelli.