Review: Demolidor (Netflix)

No início do mês de abril a Netflix estreou mais uma de suas produções, dessa vez em parceria com a Marvel Studios e tomando por base um de seus quadrinhos de sucesso: Demolidor.


Visão geral:

A série segue a trama já consagrada na versão impressa: Matt Murdock é um advogado em Nova Iorque -mais precisamente no bairro conhecido como “Hell’s Kitchen” – que, quando criança, sofreu um acidente que o fez perder completamente a visão, porém aguçou seus outros sentidos à níveis sobre-humanos.

A série busca reviver o personagem nas telas após o filme de 2003 que foi um fracasso de recepção. A repaginada adota uma abordagem mais “realista”, porém sem esquecer que é uma história de herói. Confira o trailer:


Roteiro:

O próprio uniforme que o herói adota é baseado no “Homem sem Medo” de Frank Miller, que mostra o início do Demolidor na sua saga de combate ao crime. Essa escolha, além de servir como um distanciamento visual do filme, também mostra o comprometimento da série em desenvolver o personagem por completo.

Através de flashbacks acompanhamos bem o relacionamento de Matt com o pai, com professores e durante a faculdade com seu melhor amigo. O espectador alcança o Demolidor exatamente no ponto em que todas essas influências estão convergindo, ou seja, é realmente o início do vigilante.

Há quem critique os 3 ou 4 primeiros episódios, em virtude de seu desenvolvimento e um pouco de dificuldade em descobrir para onde se está indo – dando ares que será mais uma série genérica de luta contra o crime.
Porém, como o Netflix disponibiliza todos os 13 episódios de uma vez, é fácil ultrapassar essa barreira e começar a enxergar a trama em uma escala maior.


Personagens:

Já é comum a ideia de quem “um herói só é tão bom quanto seu vilão”, e é justamente Wilson Fisk que centraliza a história e eleva toda a série:

E não é para menos, Vincent D’Onofrio realmente rouba a cena sempre que aparece e traz uma atuação que se destaca bastante das demais. Se você está achando o rosto familiar, talvez deva lembrar dele em “Nascido Para Matar” de Stanley Kubrick.

Os demais entregam uma atuação honesta, sem nenhum realce, mas também sem deixar a desejar.

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Foggy – Karen – Matt – Claire

cenas de ação:

A produção acertou em cheio quando decidiu deixar pra trás toda computação gráfica utilizada para demonstrar os poderes de Matt (fazendo isso de forma mais sutil, como aumentando o som de uma batida de coração, por exemplo).

Já as cenas de ação são bem construídas, muitas vezes ocultando trechos propositalmente para deixar o espectador sem conhecer realmente toda a capacidade física do Demolidor. Algumas chamaram tanta atenção que canais como o Vox fizeram uma análise e chegaram a chamá-la de “melhor cena de luta em anos”. Confira (a cena é do início da temporada, então sem grandes spoilers):


Uma cereja no bolo:

Daredevil, como o herói se chama no inglês, significa uma pessoa destemida, sem medo algum do perigo; em uma tradução bem literal seria algo como “Demônio desafiador”, e isso não é por acaso.

Uma característica marcante do personagem é sua formação católica. Murdock é um homem que vive em eterno conflito interno, sua sede por sangue e vingança desenfreada somente é barrada por sua fé e ética cristã.

O seu uniforme clássico é inteiramente vermelho e com chifres, isso significa que ele ao vesti-lo está externando seus demônios internos, que ele entende o que é como ser humano.

Essa dualidade do personagem, sempre buscando se equilibrar entre manter-se um herói ou sucumbir aos seus instintos mais básicos, é que irá render ótimos diálogos com o padre da paróquia em que visita.
São conversas sobre hipocrisia, existência do Diabo e a maldade humana, todas com opiniões surpreendentemente sólidas e bem definidas.


Nota:

[rating=4,5]
Daredevil
Criação: Drew Goddard