Carta da Igreja para um Brasil em pandemia

Você provavelmente está em casa. O número de mortos ainda vê uma crescente vertiginosa. Não há previsão para retomada das atividades. O dinheiro está encurtando – se é que não já falta. A saudade bate ainda mais forte e, para os que moram só, ela é uma companheira ainda mais cruel. Há, ainda, quem está na linha de frente no combate à doença – num extenuante heroísmo diário. Estamos com medo. Estamos com raiva. Estamos perdidos. Estamos no escuro.

Mas “mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me protegem.”

Lembre-se que existe esperança. Não podemos nos abraçar, mas podemos dizer “eu te amo”. Muitos estão sem o ganha-pão, mas lembre-se que outros tantos estão dando as mãos para ajudar os que já passam necessidade.

Mundo, 2020 – anjos em retrato digital

Eu sei, nós sabemos, que as projeções podem não ser boas. Sei que seu negócio está sob risco, talvez um parente esteja doente ou, pior, já tenha partido sem que você pudesse dizer adeus mais de perto.

Dói. A sensação de impotência parece ser ainda mais esmagadora mediante essa pandemia. Não temos soluções prontas para isso. Machuca ainda mais, causa revolta. Mas estamos aqui, ao menos, para ouvir e ser seu ombro de consolo – ainda que digital, mas a distância é só física, prometo¹.

Não, não sabemos quando isso tudo vai passar. Mas sabemos que VAI PASSAR, aguenta firme. Sabemos que é difícil seguir isolado, quando não conseguimos ver que cada dia é uma nova vitória.

O porquê disso tudo, você pergunta? Não sabemos e, de verdade, provavelmente não exista. Não cremos em castigo divino ou qualquer heresia do tipo. Procurar uma razão ou – pior ainda – um culpado para a pandemia é, me desculpe a franqueza, um caminho covarde.

Nosso inimigo já está posto, é colossal e difícil, mas gigantes já foram vencidos antes. Não precisamos procurar um inimigo mais fácil para celebrar uma vitória vazia – temos que derrubar o que está à nossa frente.

Não caia no conto de falsas promessas e remédios milagrosos

Não caia no conto de falsas promessas e remédios milagrosos. Acredite, se tem uma coisa que crente conhece é um falso messias – já tivemos vários, até parece que a essa altura a gente não iria saber reconhecer.

Ok, tudo bem, muitos de nós parecem ainda não reconhecer que Bolsonaro e sua gestão são uma antítese a tudo aquilo que o cristianismo prega e defende. E sim… é verdade, a gente meio que ajudou (e muito) a levantar esse bezerro de ouro.

Mas cada falso ídolo que o Cristianismo ergueu, foi apenas para vê-lo desabar sobre nossas cabeças. Então, se ainda tiver debaixo desse, corra – porque vai cair logo.

E se vier um pior no lugar dele, bem…lá vamos nós de novo denunciar a injustiça e combater a maldade.

Pois a Igreja de Cristo foi chamada para ser luz no mundo. E um mundo imerso em escuridão precisa – ainda mais – dessa luz.

A gente não vai olhar para uma pilha de mortos e achar isso normal – ou simplesmente “inevitável”.

Não vamos ouvir um líder que debocha da vida de milhões de brasileiros e ver nele um enviado de Cristo.

A Igreja de Cristo segue o seu Senhor, ela toma uma cruz nas costas e sacrifica-se pelo próximo.

A gente aprendeu que, se preciso for, todas as ovelhas devem ficar confinadas no aprisco; para que aquela uma que está em perigo possa ser salva.

Somos o bom samaritano, que para o seu negócio, adia sua viagem, reparte seu pão, abre mão de festas, da normalidade, para ajudar um ferido e doente na estrada.

a Boa Nova sempre sobrevive

Só adoramos a um único Senhor. Que é bom, justo, que chora com os que choram.

Que nos lembra que há tempo de correr, de abraçar, de sorrir e de cantar. Mas também há o tempo de se recolher, de esperar, ajudar e de se compadecer.

Somos a noiva que aguarda pacientemente, sem duvidar que seu dia chegará.

Somos o baluarte imutável, por milênios, daquilo que é bom e justo.

Pois há muitos homens maus, verdadeiros servos do diabo, agindo em nosso nome, mas a Boa Nova sempre sobrevive, a chama da retidão e do amor nunca se apaga, ela segue.

Não somos a voz do ódio; da intolerância, do preconceito; tampouco somos a voz da morte. Esses que o fazem fingem falar por nós, mas não são (ou não estão sendo) a Igreja do Senhor.

Somos o reflexo da Esperança.

 


¹ A promessa não é vazia – não podemos fazer muito, mas se você quer mandar uma mensagem, desabafar, compartilhar algo ou simplesmente ser ouvido/lido, manda pra gente 🙂